E AGORA ? ARMADILHA ECOLÓGICA ...

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NELSON MACIEL
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E AGORA ? ARMADILHA ECOLÓGICA ...

Mensagem por NELSON MACIEL » Ter Fev 12, 2008 11:49 pm

Armadilha ecológica

12/02/2008

Por Fábio de Castro


Imagem
Estudo mostra que escadas para peixes, idealizadas no hemisfério Norte para ajudar migração de peixes em regiões de barragens, são uma ameaça para cardumes da América do Sul e aumentam o risco de extinção das populações (Foto: Carlos Agostinho)

Agência FAPESP – A construção de uma barragem prejudica o ciclo reprodutivo de diversas espécies de peixes ao impedir que eles nadem rio acima em busca de um local apropriado para a desova. Para minimizar o problema, a solução mais comum é a construção de escadas – seqüências de tanques que formam uma corredeira artificial capaz de estimular a subida dos cardumes.

No entanto, um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá, no Paraná, mostra que as escadas para peixes, idealizadas originalmente para salmões na América do Norte, são uma armadilha mortal para as espécies tropicais. O dispositivo aumentaria o risco de extinção das populações que vivem rio abaixo das barragens.

O trabalho, de Fernando Pelicice e Angelo Agostinho, foi publicado na edição de fevereiro da revista Conservation Biology e foi objeto de reportagem na revista Nature.

De acordo com Agostinho, o estudo comprovou que as escadas para peixes preenchem todos os requisitos para serem enquadradas no conceito de armadilha ecológica. Idealizadas como medida de conservação, elas atuam como uma fonte adicional de impacto ambiental.

“Confirmamos que as escadas apresentam diversos problemas. O principal deles é que, depois de subir, os peixes adultos e as larvas não voltam mais e, assim, não completam o ciclo reprodutivo. Eles acabam confinados no trecho acima do reservatório, onde o ambiente é mais pobre para a reprodução”, disse à Agência FAPESP.

O estudo é resultado de uma série de pesquisas em parceria com a Universidade de Tocantins. Foram observadas as escadas dos reservatórios de Porto Primavera, no rio Paraná, do complexo do rio Paranapanema e da usina de Lajeado, no rio Tocantins.

“Reunimos um grande volume de dados que incluíam levantamentos sobre as escadas, repodução de peixes, larvas e estudos genéticos. Utilizamos esse conhecimento para aplicar o conceito de armadilhas ecológicas”, disse Agostinho.

Em seu ciclo de vida natural, peixes como o dourado (Salminus brasiliensis), pintado (Pseudoplatystoma corruscans), piracanjuba (Brycon orbignyanus), pacu (Piaractus mesopotamicus) e curimbatá (Prochilodus lineatus) migram rio acima durante a época de cheia para desovar em tributários.

Mas a volta é fundamental para o ciclo reprodutivo. “Os ovos descem pelo turbilhão das águas enquanto se desenvolvem e, ao chegar à região de várzea, adentram canais e lagoas. Nesses ambientes marginais, desconectados dos rios fora da época de cheia, eles encontram ambiente seguro para crescer. Na cheia seguinte, voltam aos rios e se integram aos cardumes de adultos”, explica Agostinho.


Bom para salmão

Segundo Angelo Agostinho, as espécies migradoras são afeitas às águas rápidas. Depois de utilizar as escadas para passar ao segmento superior do rio, os peixes não voltam mais, pois são desestimulados ao encontrar as águas paradas do reservatório.

“É efetivamente uma armadilha. O peixe sai do trecho abaixo da barragem, onde poderia completar seu ciclo, e vai para o trecho acima, onde não tem condições de retornar”, destacou.

Na parte de baixo, segundo Agostinho, os peixes e larvas poderiam encontrar águas turvas e meandros apropriados para se abrigar dos predadores. “Na parte de cima eles podem até encontrar tributários do rio para desovar, mas as larvas descem para o reservatório e encontram uma água parada e límpida, onde dificilmente escapam de predadores.”

De acordo com Pelicice, que é o autor principal do estudo, as escadas foram concebidas para salmonídeos que, vindos do mar, sobem os rios, atravessam as escadas e os reservatórios e desovam nas cabeceiras. As escadas funcionam no hemisfério Norte porque os salmões adultos não precisam voltar: eles desovam apenas uma vez na vida e o ciclo se completa numa só jornada. Os peixes da América do Sul, no entanto, desovam diversas vezes na vida.

“No caso dos salmões, a migração descendente ocorre quando o peixe já tem de 12 a 15 centímetros. Por isso, quando migra rio abaixo, o peixe jovem tem condições de passar pelo reservatório e pelos vertedouros. Entre nossos grandes migradores, são as ovas que descem passivamente, por 70 ou 80 quilômetros, enquanto se desenvolvem. Quando encontram o reservatório, ficam à deriva e podem ser predadas por qualquer lambari”, disse Agostinho.

Os peixes da América do Sul, segundo Pelicice, deslocam-se ao longo do rio, dispersando-se pela bacia. Se não têm chance de voltar do barramento, o estoque diminui, ao longo do tempo, na jusante (na parte de baixo do rio).


Sem estímulo para retornar

De acordo com Agostinho, as escadas deveriam ser fechadas quando não há locais para os peixes completarem seu ciclo na montante da barragem. “A escada de Lajeado foi fechada, por solicitação do Ibama, exatamente porque se notou que havia prejuízo para a reprodução das espécies. Mas aquela área, ao contrário do caso de Canoas, não caracteriza uma armadilha, pois conta com vastas áreas acima da barragem”, afirmou o professor titular do Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Apicultura.

Pelicice ressalta que o dispositivo da escada, em si, não representa dificuldade para que os peixes desçam o rio de volta. “O problema é o reservatório. Quando terminam de subir, eles atravessam a água estagnada em busca do trecho superior de rio. Mas, quando tentam voltar, são desestimulados pelo reservatório e nem alcançam a escada de volta”, explicou.

Segundo Agostinho, além de impedir a volta dos peixes adultos e larvas, as escadas não servem para a maioria das espécies. “Elas são implantadas sem um objetivo claro, simplesmente porque há um senso comum que acredita em sua utilidade. Mas só algumas poucas espécies acabam utilizando as escadas, nem sempre as migradoras. Do ponto de vista da conservação, as escadas são ineficazes”, disse.

Para Pelicice, a origem do problema é a ausência de estudos adaptativos. A técnica de escadas do hemisfério Norte foi transposta para a América do Sul sem se considerar o contexto. “Por isso, há diversas deficiências. Há o impacto ecológico, que traz prejuízo às populações, e o problema de seletividade, que é inerente às escadas, porque impossibilita a subida de parte das espécies”, afirmou.

O artigo Fish-passage facilities as ecological traps in large neotropical rivers, de Fernando Pelicice e Angelo Agostinho, pode ser lido por assinantes da Conservation Biology em www.blackwellpublishing.com/cbi.
Nelson Maciel
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Mensagem por Alexandre Estanislau (Zeca) » Qua Fev 13, 2008 1:11 am

Muito bom.
UMPA - Um P*** abraço

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Xico Jorge
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Mensagem por Xico Jorge » Qua Fev 13, 2008 8:13 am

Isso é preocupante, pois é preciso se pensar uma solução com urgência para tentar recuperar o muito que já perdemos em termos de fauna das nossas águas continentais.

Sempre defendi a idéia de escadas, mas agora vou ter que repensar isso.

Mas uma coisa ainda defendo com unhas e dentes, a proibição da pesca profissional em nossos rios e lagos, talvez se possa permitir somente na modalidade artesanal mesmo assim devemos lutar para que todos os pescadores artesanais ou profissionais possam se tornar guias com incentivos e financiamento dos poderes públicos.

Está na hora de tomarmos uma atitude mais séria sobre essa questão no país.
Carinho e afeto não combinam com elegância. Abaixo a elegância!
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NELSON MACIEL
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Mensagem por NELSON MACIEL » Qua Fev 13, 2008 8:58 am

Xico Jorge escreveu:Isso é preocupante, pois é preciso se pensar uma solução com urgência para tentar recuperar o muito que já perdemos em termos de fauna das nossas águas continentais.

Sempre defendi a idéia de escadas, mas agora vou ter que repensar isso.

Mas uma coisa ainda defendo com unhas e dentes, a proibição da pesca profissional em nossos rios e lagos, talvez se possa permitir somente na modalidade artesanal mesmo assim devemos lutar para que todos os pescadores artesanais ou profissionais possam se tornar guias com incentivos e financiamento dos poderes públicos.

Está na hora de tomarmos uma atitude mais séria sobre essa questão no país.
Pois é Xico ...
Eu também ... Estou me sentindo um marido traído ...rs...
Infelizmente a pesca predatória, notadamente em águas interiores, está acabando com nossa ictiofauna. E ao contrário de outros paises, como a Argentina em que a Pesca Esportiva é assunto do Ministério do Turismo, aqui no Brasil o desgoverno criou uma Secretaria Especial para cuidar da Pesca Predatória ...

Isso é uma vergonha ...
Nelson Maciel
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Mensagem por Alexandre Estanislau (Zeca) » Qua Fev 13, 2008 10:13 am

Um exemplo

Eu estava vendo um programa na NAT GEO sobre um ecosistema na Itália, onde vive uma espécie de salamandra muito rara por lá. Esta salamandra estava em declínio de sua população e foram pesquisar os motivos. Notaram que ela colocava seus ovos na água. E que a abundância de trutas estavam comendo os ovos da salamandra. Então os pesquisadores e autoridades tiveram que fazer um trabalho sério para PEDIR AOS PESCADORES que não soltassem TODAS as trutas, matando algumas para que a população fique um pouco menor e a salamandra possa prosperar.

Vejam a diferença... tiveram que convencer para MATAR alguns pra ajudar outra espécie.

====UM EXEMPLO NO BRASIL====
Estive em Maceio e fui pescar um dia... todas as barras de rio estão assoreadas e o nível máximo da profundidade que antes era de 15 a 20 metros hoje tem 5.

No único local que estava bom de pesca tinham 10 mergulhadores matando tudo. Fazer o que?

Conversando com um pescador da região ele disse que nao leva mais mergulhador pros pontos conhecidos, porque ele ganha somente uma vez. Depois o cara volta no barco de um amigo e leva mais 5 com ele.

Ai ele completou... e os peixes que eu ia pescar pra vender ele mata e eu fico sem.

Na verdade ele deveria levar pescador e não mergulhador... e não mergulhar lá pra matar os peixes tb... mas é querer demais né... e assim anda o Brasil.

Fui para o Nordeste e não encontrei um local sequer que pudesse ter um mínimo de estrutura para pesca. Com todo aquele potencial.

==================

Eu também defendia as escadas mas depois de ler este estudo tenho que repensar. Muito bom mesmo...
UMPA - Um P*** abraço

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...

Mensagem por Vinicius Zeppa » Qua Fev 13, 2008 11:01 am

..tem um amigo meu .. zootecnista ... e pescador tbem que esta totalmente a par de um estudo similar a este (se naum for o mesmo) no reservatorio da represa de primavera ... inclusive dando ate numeros aproximados do que esta ocorrendo ... segundo palavras dele proprio ... de cada 6 matrizes ou reprodutores que sobem somente 1 retorna rio abaixo ... eh simples ... e tragico ... soh qqer um fazer as contas !!!! ... ate qdo vai o "estoque" ?????
"... .....O HOMI DOS RELATO-COMÉDIA...HEHEHE...."
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Guilherme Morais
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Mensagem por Guilherme Morais » Qua Fev 13, 2008 11:14 am

Sou do time que sempre defendeu a escada também, mesmo já tendo me questionado quanto a volta dos peixes para a parte baixa do rio... Mas sinceramente, não vejo outra solução viável economicamente para as barragens. Alternativas até tem, mas que a engenharia brasileira ainda desconhece, e que a diferença no custo fará com que as autoridades, como sempre, mandem a natureza pro inferno...
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Mensagem por Normando » Qua Fev 13, 2008 12:12 pm

Em Minas já existe uma lei que não permite a construção de represas sem sistema de transposição de peixes. No Espírito Santo se a lei ainda não foi aprovada está prestes a ser. Demais estados onde não existe tal legislação deverão implanta-la em curto espaço de tempo.Isto aumenta os custos, exige estudos técnicos detalhados e pessoal especializado, é muito mais fácil fazer apenas barramento. Estranho que a matéria ganhe destaque num momento desses. Nenhum sistema só tem vantagens, existem também as desvantagens, a questão é conciliar o desenvolvimento com a preservação ambiental. Todo cuidado é pouco num momento desses, existem muitos interesses atrás disso tudo. Só para exemplificar: Rede Nacional de televisão mostrou a uns tempos atrás problemas de saúde relacionados com o consumo de café(estudos do departamento de saúde dos E.U.A), coincidentemente os estoques de café no mundo estavam em níveis bem baixos e a a tendência era de aumentos dos preços internacionais mantidos os mesmos níveis de consumo.(entenderam a maldade, né!)
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Mensagem por Carlos Salatti » Qua Fev 13, 2008 3:43 pm

Já tinha ouvido falar disso.

Convido a quem quiser a acessar o site da Itaipu Binacional e acompanhar os estudos do canal da Piracema que eles têm.

Tenho contato com alguns Biólogos de lá e se alguém se interessar em conversar diretamente com eles, é só me avisar.

Atualmente o pessoal faz muito fervo com assuntos ambientais. É preciso ter muito cuidado com isso. As escadas tem prós e contras e está sendo estudada. No meio ambiente, diferentemente de outras áreas, as coisas nem sempre ocorrem rapidamente, as vezes os efeitos demoram a acontecer. Com certeza tem muita gente (boa e competente) trabalhando nisso e, se há algum problema, já está sendo procurada a solução.

Apontar erros é fácil, vai tentar resolvê-los...

Mesmo assim, o estudo dos pesquisadores em questão é legal. E acho importante as pessoas (pesquisadores) da área se preocuparem com isso. Só assim as soluções começarão a aparecer.

Abraços.
Carlos Alberto Salatti Junior

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Gabriel Guimarães
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Mensagem por Gabriel Guimarães » Qui Fev 14, 2008 5:43 am

Com certeza fiquei bastante surpreso com o estudo.Tambem sempre vi as escadas como uma medida essencial nas barragens e defendi seu uso mas parece que a coisa nao 'e bem assim.
Pelo que entendi a escada pode ser sim efetive em ocasioes onde os peixes tem como se reproduzir rio acima(area suficiente).Acho que cada barragem devia ter um estudo sobre a viabilidade dessa medida.Outras solucoes tenho certeza que a engenharia conseguiria achar mas nao 'e conveninte.Falta investimento em pesquisa e tecnologia.Com grana se faz muita coisa!
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Mensagem por Normando » Qui Fev 14, 2008 5:23 pm

Você tem razão. questões ambientais devem ser tratadas caso a caso, não existe receita genérica. Veja o caso em questão, e vamos analisá-lo enfocando a represa de Tres Marias.Se ali existisse escada ou outro sistema com certeza teríamos assegurado a manutenção de diversas espécies num trecho de quase 500 km do rio São Francisco, sem contar alguns afluentes importantes como o Rio Pará, Rio Paraopeba, Rio Bambui e incontáveis afluentes menores. Represa acima acabaram as matrinchãs, dourados, surubins e diversas outras espécies de piracema. Não venham me dizer que é pesca ou poluição. A pesca tanto amadora como profissional exerce muito mais pressão abaixo da represa, as grandes industrias estão abaixo da represa e o rio atravessa aglomerados urbanos abaixo da represa. Nasci e fui criado às margens do Rio Pará e vi com meus própios olhos o sumiço de diversas espécies. Tecnologia existe, técnicos capacitados não nos faltam, o que falta é vontade política. O licenciamento ambiental é um processo demorado, não porque é burocrático, mas porque é complexo e como já disseram, muitas vezes os resultados não são imediatos e nem são a olhos vistos. Isso não agrada a muita gente, o próprio presidente Lula numa de suas infindáveis pérolas disse que as questões ambientais estavam atrasando o desenvolvimento do país. E assim vai, decisões são tomadas no conforto dos gabinetes, a população mal informada se vê a mercê da pressão exercida por grupos radicais daqueles que são a favor ou são contra, tem razão aquele que grita mais, que manipula mais. Veja no caso de nós pescadores, apegamo-nos muitas vezes nas discussões sobre métodos de pesca, este é predatório este não é, o meu é melhor e coisa e tal e deixamos de lado a questão de onde vivem esses animais que são a fonte de nosso prazer. Poluição, esgoto, agrotóxico, crescimento desordenado é problema do governo, não é nosso. Cabe ao governo nos oferecer água de boa qualidade e cristalina. Será? É uma pena que o forum que trata de meio ambiente é o que menor número de posts tem na CATERVA. Mas nós podemos mudar isso.



Gabriel Guimarães escreveu:Com certeza fiquei bastante surpreso com o estudo.Tambem sempre vi as escadas como uma medida essencial nas barragens e defendi seu uso mas parece que a coisa nao 'e bem assim.
Pelo que entendi a escada pode ser sim efetive em ocasioes onde os peixes tem como se reproduzir rio acima(area suficiente).Acho que cada barragem devia ter um estudo sobre a viabilidade dessa medida.Outras solucoes tenho certeza que a engenharia conseguiria achar mas nao 'e conveninte.Falta investimento em pesquisa e tecnologia.Com grana se faz muita coisa!
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Mensagem por Gabriel Guimarães » Sex Fev 15, 2008 4:23 am

Normando escreveu:Você tem razão. questões ambientais devem ser tratadas caso a caso, não existe receita genérica. Veja o caso em questão, e vamos analisá-lo enfocando a represa de Tres Marias.Se ali existisse escada ou outro sistema com certeza teríamos assegurado a manutenção de diversas espécies num trecho de quase 500 km do rio São Francisco, sem contar alguns afluentes importantes como o Rio Pará, Rio Paraopeba, Rio Bambui e incontáveis afluentes menores. Represa acima acabaram as matrinchãs, dourados, surubins e diversas outras espécies de piracema. Não venham me dizer que é pesca ou poluição. A pesca tanto amadora como profissional exerce muito mais pressão abaixo da represa, as grandes industrias estão abaixo da represa e o rio atravessa aglomerados urbanos abaixo da represa. Nasci e fui criado às margens do Rio Pará e vi com meus própios olhos o sumiço de diversas espécies. Tecnologia existe, técnicos capacitados não nos faltam, o que falta é vontade política. O licenciamento ambiental é um processo demorado, não porque é burocrático, mas porque é complexo e como já disseram, muitas vezes os resultados não são imediatos e nem são a olhos vistos. Isso não agrada a muita gente, o próprio presidente Lula numa de suas infindáveis pérolas disse que as questões ambientais estavam atrasando o desenvolvimento do país. E assim vai, decisões são tomadas no conforto dos gabinetes, a população mal informada se vê a mercê da pressão exercida por grupos radicais daqueles que são a favor ou são contra, tem razão aquele que grita mais, que manipula mais. Veja no caso de nós pescadores, apegamo-nos muitas vezes nas discussões sobre métodos de pesca, este é predatório este não é, o meu é melhor e coisa e tal e deixamos de lado a questão de onde vivem esses animais que são a fonte de nosso prazer. Poluição, esgoto, agrotóxico, crescimento desordenado é problema do governo, não é nosso. Cabe ao governo nos oferecer água de boa qualidade e cristalina. Será? É uma pena que o forum que trata de meio ambiente é o que menor número de posts tem na CATERVA. Mas nós podemos mudar isso.



Gabriel Guimarães escreveu:Com certeza fiquei bastante surpreso com o estudo.Tambem sempre vi as escadas como uma medida essencial nas barragens e defendi seu uso mas parece que a coisa nao 'e bem assim.
Pelo que entendi a escada pode ser sim efetive em ocasioes onde os peixes tem como se reproduzir rio acima(area suficiente).Acho que cada barragem devia ter um estudo sobre a viabilidade dessa medida.Outras solucoes tenho certeza que a engenharia conseguiria achar mas nao 'e conveninte.Falta investimento em pesquisa e tecnologia.Com grana se faz muita coisa!
Falou tudo Normando!
Falta iniciativa...as vezes de nos mesmos e haja falta de iniciativa do governo!'E revoltante de vez em quando...
Uma das perolas que escutei do Lula ano passado:"Os bagres do Xingu nao vao atrapalhar o desenvolvimento do pais!"
'E f***!
Ele estava comentando sobre a construcao da Usina de Belo Monte(acho que esse 'e o nome) no Xingu e a possibilidade de extincao da ictiofauna no lugar,um dos casos citados foram dos peixes de couro como a piraiba e a pirarara.Chega a ser vergonhoso!
Se o investimento existisse tenho certeza que seria possivel conciliar a construcao da barragem com outro tipo de sistema ecologico que nao impactasse tanto o meio ambiente.Enfim...
Podemos mudar com certeza esse quadro no Caterva.Se eu ver alguma coisa que acho interssante sobre ecologia posto la no forum.
Um abraco
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Guilherme Morais
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Mensagem por Guilherme Morais » Sex Fev 15, 2008 5:38 pm

Normando escreveu:Represa acima acabaram as matrinchãs, dourados, surubins e diversas outras espécies de piracema. Não venham me dizer que é pesca ou poluição.
Normando,

Há cerca de 5 ou 6 anos, um trecho considerável acima do rio São Franciso acima da represa de Três Marias foi fechado para pesca. Claro que a pesca não encerrou, mas pelo menos a fiscalização foi um pouco maior.

Inclusive todos os ranchos de pescaria da minha região (entre Martinho Campos, Dores do Indaiá e Bom Despacho) foram cadastrados pelo Ibama e Feam. Eu mesmo fiz alguns projetos para ranchos já existentes de conhecidos do meu pai, somente para cadastro. E esses órgãos bateram pesado sobre a necessidade da faixa de preservação, tentando até mesmo desapropriar trechos de pastagens de algumas fazendas (sem sucesso, óbvio).

Somente com essas atitudes, já tive notícias de capturas de surubins em Dores do Indaiá, e dourados em Martinho Campos, que estavam sumidos há muitos anos da região. Claro que isso não significa muita coisa, mas pra mim mostra claramente a força que tem a preservação da mata ciliar e a fiscalização sobre a pesca predatória...
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Mensagem por Normando » Sex Fev 15, 2008 10:16 pm

Guilherme,
Conheço bem a região, sou de Pompéu e temos propriedade rural ás margens do Rio Pará a mais de cinco gerações(próximo á Ponte Martinho Campos/Pompéu). No Rio Pará, da Barra do córrego salobro até o encontro com o Rio são Francisco, praticamente é tudo parente.
Procuramos preservar a mata ciliar, mas mesmo assim ainda reflorestamos um trecho de 500 m de pastagem para acertar a faixa de proteção. Infelizmente a pesca predatória tem aumentado bastante principalmente depois que umas glebas foram loteadas e viraram condomínio na margem do lado de Martinho Campos. Pessoalmente fiz denúncia à Polícia ambiental e Ministério Público e algumas fiscalizações de peso foram executadas na região, espero que vire rotina.





guilherme.morais escreveu:
Normando escreveu:Represa acima acabaram as matrinchãs, dourados, surubins e diversas outras espécies de piracema. Não venham me dizer que é pesca ou poluição.
Normando,

Há cerca de 5 ou 6 anos, um trecho considerável acima do rio São Franciso acima da represa de Três Marias foi fechado para pesca. Claro que a pesca não encerrou, mas pelo menos a fiscalização foi um pouco maior.

Inclusive todos os ranchos de pescaria da minha região (entre Martinho Campos, Dores do Indaiá e Bom Despacho) foram cadastrados pelo Ibama e Feam. Eu mesmo fiz alguns projetos para ranchos já existentes de conhecidos do meu pai, somente para cadastro. E esses órgãos bateram pesado sobre a necessidade da faixa de preservação, tentando até mesmo desapropriar trechos de pastagens de algumas fazendas (sem sucesso, óbvio).

Somente com essas atitudes, já tive notícias de capturas de surubins em Dores do Indaiá, e dourados em Martinho Campos, que estavam sumidos há muitos anos da região. Claro que isso não significa muita coisa, mas pra mim mostra claramente a força que tem a preservação da mata ciliar e a fiscalização sobre a pesca predatória.[/img][/list]
Editado pela última vez por Normando em Seg Mar 10, 2008 8:40 pm, em um total de 1 vez.
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jckruel
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Poi é... Antes elas não funcionavam!

Mensagem por jckruel » Sáb Mar 08, 2008 7:38 am

Caros companheiros,

Vi esta matéria e cheguei a comentá-la em outro site, razão pela qual devo me penitenciar com relação ao Caterva. Tenho estado ausente por diversas razões o que não se justifica dado que o Zeca, criou este cantinho para pessoas como eu... Andei me atualizando (lendo os posts mais antigos) e vi que ele chegou a pensar em até tirar do ar, sendo que o Nelson teve que intervir pedindo para que ele deixasse o espaço vivo! (rs). Não faz isso não Zeca, a contribuição ainda vai ser grande!!!

Mas com relação ao tópico tenho a ponderar o seguinte:

Antigamente a discussão ocorria em função de que os empreendedores alegavam que, dada a altura dos barramentos não era viável a construção de mecanismos de transposição e por isso, os órgãos licenciadores nada exigiam... (Até porque isso costuma ser caro e não podemos onerar o setor elétrico, não é mesmo?)

Bem, vou colocar aqui parte da argumentação que coloquei na ACP contra a facilitação no licenciamento da UHE Serra da Mesa:


"6 – DOS DANOS CAUSADOS PELA NÃO TRANSPOSIÇÃO DOS PEIXES NA BARRAGEM.

Breve histórico.

Os sistemas para a transposição de peixes são projetos multidisciplinares, pois envolvem as ciências da engenharia, biologia, ecologia e meio ambiente.


Nos últimos trinta anos, não foram construídos todos os sistemas de transposição imprescindíveis à natureza nos barramentos, em primeiro lugar porque os órgãos licenciadores, de forma negligente, deixam de exigir o cumprimento da lei.


Em segundo lugar, porque tal procedimento desonerava os empreendedores e provocava uma mísera redução de custo nas obras em detrimento à conservação da vida!

Por último, eram produzidos estudos superficiais deficientes em qualificação técnica, deixando de cumprir o mínimo necessário - biólogos sem concepção estrutural, engenheiros sem preparo biológico e ambiental, além da falta sistemática e endêmica de dados básicos: (velocidade dos peixes, inventário da riqueza de peixes, rotas de migração, ambientes reprodutivos, migração trófica, necessidades ambientais, capacidade física, volume e preferências dos cardumes.

Felizmente, foram e estão sendo construídos barramentos que atendem a necessidade de perpetuar a vida, pois parece que nem todos os empreendedores são desprovidos de sensibilidade e dever cívico no cumprimento de exigências legais.

Por outro lado, infelizmente, ainda são produzidos estudos de impacto ambiental (EIA) para desobrigar os empreendedores da implantação de mecanismos de transposição, como ocorreu nesses dois últimos séculos, sem o menor amparo legal".

Pois bem, isso eu coloquei a cinco anos atrás, de forma que muita coisa mudou e a tendência é que todos nós tenhamos que evoluir, na medida que novas informações são anexadas ao processo.

Temos assim, o que os até então intransponíveis obstáculos foram superados pela nossa engenharia e os peixes, enfim, puderam subir... Vejam que não estou falando de escadas... Falamos de mecanismos de transposição! Qualquer um que possa funcionar a contento!

Aí entra na discussão o canal de transposição de Itaipú, que eu saiba parece que há peixes descendo e está ocorrendo (não sei em que escala) a migração trófica!

Parece então que existem alternativas técnicas, tanto que o Biólogo de Itaipu que acompanhou tudo desde o início, foi cedido temporariamente para FURNAS fazer o canal de transposição do Madeira...

Ora, se isso não funciona é um absurdo a exigência do IBAMA na UHE do Madeira !!! Pobrezinhos dos empreendedores, desperdiçando vultuosos recursos que vão se caracterizar como esforço inútil no futuro... Será que a exigência se deu apenas para tirar os "bagrões" do colo do Lula?

Bem, antes de comentar com detalhes o trabalho dos ilustres professores da Universidade de Maringá, (no próximo post, senão ninguém aguenta o tamanho deste) tenho a dizer que eventualmente nos deparamos com trabalhos por eles realizados, em constantes citações por parte de FURNAS, contra nossas alegações nas Ações Civis Públicas por nós produzidas. Devem ser realmente os melhores, pois até então só eles tem sido citados!

Também tenho a esclarecer que numa reunião aqui no Ministério Público de Goiás, um Professor da UCG disse ao promotor que, quando FURNAS contrata um acadêmico (ou uma equipe) para fins de estudos destinados à elaboração dos EIA Rimas, existe uma cláusula de confidenciabilidade, isto é: caso surja algum item contra o empreedimento, ele não vai constar dos trabalhos. É a licença para a manipulação!! Como também é crime contra a sociedade e, se um dia eu conseguir por a mão num contrato destes, farei tudo para botar o responsável na cadeia!

Com isso não pretendo ser leviano e colocar estes cientistas sob suspeição, até porque desconheço se algum dia foram contratados para este tipo de trabalho. Entretanto me reservo o direito de perguntar o seguinte:

Se efetivamente tivessem 100% de razão (e não tem) qual o motivo que tendo o conhecimento que eles tem e a massa crítica adquirida contra os mecanismos de transposição, até hoje nunca se posicionaram com relação aos danos contra a ictiofauna provocados pelos barramentos?

Vou ter o cuidado de pedir a eles o trabalho original, de forma a não tirar conclusões apressadas, numa matéria veiculada na imprensa, como é o caso da matéria postada pelo Nelson.

até o meu post seguinte comentando o artigo


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jckruel
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Armadilha ecológica

Mensagem por jckruel » Sáb Mar 08, 2008 10:52 am

Caros companheiros,

Antes de mais nada confesso, por mais que tenha estudado o assunto, não ter condições acadêmicas (conhecimento científico) de aprofundar uma discussão ao nível requerido.

O trabalho realizado pelos referidos professores são de grande valia, contém fundamentos importantes, mas não apresentam fatos tão novos assim, tanto é que respondendo a um questionamento do Luizão no Tucunazul sobre o assunto (antes desta publicação), respondi o óbvio: que os peixes dificilmente descem as escadas e que há perdas de população a jusante.

Ocorre que não dá para generalizar, até porque cada reservatório apresenta características próprias e não há nenhum igual ao outro.

Considerem que o modelo brasileiro é de cascatas de reservatórios e, acredito eu, para termos a tão badalada certeza científica, o bom senso indica que um trabalho realmente profundo, deveria contemplar toda a cadeia de reservatórios de uma mesma bacia hidrográfica e considerar a possibilidade de que se houvesse uma cadeia de canais de transposição, se poderia ocorrer a migração trófica e a migração reprodutiva.

Mas vamos ao que eles concluíram (o que entendi mais relevante):


01. – A construção de uma barragem prejudica o ciclo reprodutivo de diversas espécies de peixes ao impedir que eles nadem rio acima em busca de um local apropriado para a desova. Para minimizar o problema, a solução mais comum é a construção de escadas – seqüências de tanques que formam uma corredeira artificial capaz de estimular a subida dos cardumes.

Comentário:
Conclusão verdadeira, mas lamentavelmente restrita a uma situação de uma barragem. Gostaria muito de ver avaliado por eles o conceito e a magnitude dos danos causados a ictiofauna, por uma cascata de reservatórios sem mecanismos de transposição. Gostaria mais, que avaliassem que tais obras costumam durar cem anos e daí, qual seriam as espécies que seriam extintas. Ainda, tais reservatórios sem as escadas são também armadilhas que vão extinguir espécies? E no caso dos reservatórios de montante, onde ainda sobram vários afluentes, nem assim os mecanismos como Itaipu seriam úteis para a perpetuação da biodiversidade dos peixes?



02. "De acordo com Agostinho, o estudo comprovou que as escadas para peixes preenchem todos os requisitos para serem enquadradas no conceito de armadilha ecológica. Idealizadas como medida de conservação, elas atuam como uma fonte adicional de impacto ambiental.
Confirmamos que as escadas apresentam diversos problemas. O principal deles é que, depois de subir, os peixes adultos e as larvas não voltam mais e, assim, não completam o ciclo reprodutivo. Eles acabam confinados no trecho acima do reservatório, onde o ambiente é mais pobre para a reprodução".

Comentário:
Varia não é? O conceito aplicado de forma generalizada é tudo o que o setor elétrico deseja escutar...
Mas e os trabalhos realizados por eles mesmos aí no Paraná, envolvendo os tributários do Paranazão? Não teriam mais valor nenhum as reproduções (comprovadas) nos rios Ivenhema, Verde e os outros que não recordo? E olhem que tem Itaipú logo abaixo...


03. "O estudo é resultado de uma série de pesquisas em parceria com a Universidade de Tocantins. Foram observadas as escadas dos reservatórios de Porto Primavera, no rio Paraná, do complexo do rio Paranapanema e da usina de Lajeado, no rio Tocantins.
Reunimos um grande volume de dados que incluíam levantamentos sobre as escadas, reprodução de peixes, larvas e estudos genéticos. Utilizamos esse conhecimento para aplicar o conceito de armadilhas ecológicas, disse Agostinho."


Comentário:

Pois é... Já falei antes que eles pegaram escadas isoladas e não consideraram a possibilidade de existir uma "cascata" de mecanismos de transposição (canais), porque se estiverem certos, bastaria então que no último reservatório fossem repostas todas as espécies atingidas/ameaçadas e tudo ficaria melhor resolvido... Mas daí, com certeza, o trabalho poderia perder parte do valor, dado que a intenção é provar que os mecanismos são "armadilhas ecológicas" e como é um assunto novo, além do setor elétrico que adorou a matéria, repercute também na comunidade acadêmica!


04. " Em seu ciclo de vida natural, peixes como o dourado (Salminus brasiliensis), pintado (Pseudoplatystoma corruscans), piracanjuba (Brycon orbignyanus), pacu (Piaractus mesopotamicus) e curimbatá (Prochilodus lineatus) migram rio acima durante a época de cheia para desovar em tributários.
Mas a volta é fundamental para o ciclo reprodutivo. “Os ovos descem pelo turbilhão das águas enquanto se desenvolvem e, ao chegar à região de várzea, adentram canais e lagoas. Nesses ambientes marginais, desconectados dos rios fora da época de cheia, eles encontram ambiente seguro para crescer. Na cheia seguinte, voltam aos rios e se integram aos cardumes de adultos”, explica Agostinho."


Comentário:
A primeira afirmação é por demais conhecida de todos, até dos leigos como nós!

Já a segunda...Aí começa a me causar um mal estar, uma preocupação desconfortavel de que tem uma coisa muito errada em provar as tais "armadilhas ecológicas"! Continuo afirmando que cada reservatório é um caso e aí vem a pergunta que não vai calar:

- Se em todos os reservatórios (e a cascata deles) uma das principais alegações dos autores de EIA Rimas, são as inúmeras (?) vantagens da regularização das vazões, porque não ocorrem os danos causados pelas cheias onde encontraremos os locais onde "os ovos descem pelo turbilhão das águas enquanto se desenvolvem e, ao chegar à região de várzea, adentram canais e lagoas."
E mais, é preciso muita coragem para alegar a existência de "ambientes marginais" onde as vazões são reguladas pelo turbinamento das águas represadas! E ainda dizer que nas cheias os peixes voltam para os rios (?) para se incorporarem aos cardumes adultos? Tenham paciência, mas gostaria de saber como e onde está acontecendo isso no Brasil! Tem que ser desinformação do jornalista ou o trabalho não é tão sério como como todos queremos crer.

05. Segundo Angelo Agostinho, as espécies migradoras são afeitas às águas rápidas. Depois de utilizar as escadas para passar ao segmento superior do rio, os peixes não voltam mais, pois são desestimulados ao encontrar as águas paradas do reservatório.
“É efetivamente uma armadilha. O peixe sai do trecho abaixo da barragem, onde poderia completar seu ciclo, e vai para o trecho acima, onde não tem condições de retornar”, destacou.
"Na parte de baixo, segundo Agostinho, os peixes e larvas poderiam encontrar águas turvas e meandros apropriados para se abrigar dos predadores.

Comentário:
A primeira afirmação é verdadeira, correta e de conhecimento de todos os que militam na área no que se refere às escadas, mas não com relação aos canais que diga-se de passagem, não são possíveis de construir em todas as UHEs.

A segunda afirmação pode se aplicar somente a um estudo de caso, pois eles não especificam quais peixes e quais seriam os locais que eles poderiam completar seu ciclo!!! Isso deve ser brincadeira, pois quem pesca em reservatórios já deve ter presenciado cardumes das espécies citadas, defronte os barramentos sem possibilidade de desovarem.

A terceira afirmação mais parece uma sequência de palpites (e aí deixa de ser trabalho científico pois os palpites se nivelam com os meus). Vejam:
- "Na parte de baixo, segundo Agostinho, os peixes e as larvas poderiam encontrar águas turvas e meandros apropriados para se abrigar dos predadores." Pois é...Gostaria de saber quais os locais deste Brasil em que os peixes ainda podem encontrar os meandros para se abrigar se não mais existem os rios e sim uma sucessão de barramentos!


06 - “No caso dos salmões, a migração descendente ocorre quando o peixe já tem de 12 a 15 centímetros. Por isso, quando migra rio abaixo, o peixe jovem tem condições de passar pelo reservatório e pelos vertedouros. Entre nossos grandes migradores, são as ovas que descem passivamente, por 70 ou 80 quilômetros, enquanto se desenvolvem. Quando encontram o reservatório, ficam à deriva e podem ser predadas por qualquer lambari”, disse Agostinho.


Comentário:

Estaríamos diante de outro palpite ou de uma probabilidade? As ovas realmente podem ser predadas por qualquer lambari, ou pelas tilápias, ou por qualquer outro predador de ovas. Mas, em todos os reservatórios encontramos as águas límpidas? Nesta época?

Não dá para generalizar porque depende da ocupação antrópica da região, se predominam pastagens ou as lavouras, se é plantio direto ou convencional, se temos as APPs preservadas com reflorestamento (caso de Itaipú) se o regime hidrológico é de mais ou menos precipitação considerando que temos ciclos de mais ou menos chuvas e por ai vamos...

E olhem que são dados otimistas e alvissareiros dado que a conclusão é de que ocorreu a reprodução e as ovas descem passivamnete por 70 a 80 Km até chegarem aos reservatórios! E pelo que está sub entendido isso deve ocorrer em todos os reservatórios!



"07 - Os peixes da América do Sul, segundo Pelicice, deslocam-se ao longo do rio, dispersando-se pela bacia. Se não têm chance de voltar do barramento, o estoque diminui, ao longo do tempo, na jusante (na parte de baixo do rio)".

Comentário:

Confesso minha dificuldade de entender a colocação do jornalista, pois com certeza o professor não disse dessa forma. Ora, se os peixes sobem se defrontam com o barramento. Se descem também... Se se espalham pela bacia não tem chance de voltar ao barramento? Por que? Existem outros barramentos na bacia?

E daí? Temos uma outra conclusão inovadora? Quer dizer então que onde não há escadas os estoques ao longo do tempo não diminuem?



08 - De acordo com Agostinho, as escadas deveriam ser fechadas quando não há locais para os peixes completarem seu ciclo na montante da barragem. “A escada de Lajeado foi fechada, por solicitação do Ibama, exatamente porque se notou que havia prejuízo para a reprodução das espécies. Mas aquela área, ao contrário do caso de Canoas, não caracteriza uma armadilha, pois conta com vastas áreas acima da barragem”, afirmou o professor titular do Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Apicultura.


Comentário:

Concordo com o professor Agostinho que se as escadas construídas em locais onde os peixes não podem completar seu ciclo a montante devam ser fechadas.

Aí vem a pergunta... Depois da m**** feita, o IBAMA vem e resolve fechar... O que vocês não sabem é que o licenciamento ambiental foi realizado pela Naturatins num rio federal - Tocantins, sem a existência de um pacto federativo e sem a delegação explícita do IBAMA.

Este é o retrato do licenciamento ambienta brasileiro e pobre do empreendedor! Além disso, será que ficou mais algum passivo ambiental?
A Naturatins exigiu os 500 m do entorno=APPs? Pediu a reserva legal de 20% da área inundada? Cumpriu a legislação federal que exige a pré limpeza do reservatório? Quem foi lá como eu fui, tem certeza que não!

E agora? O IBAMA vai chamar para si a renovação do licenciamento? Vai exigir medidas mitigadoras/compensatórias pelo não funcionamento da escada? Só rindo mesmo...

Estou com muita dificuldade de entender o jornalista... Vejam só: A escada foi fechada, exatamente porque se notou que havia prejuízo para a reprodução das espécies. Mas aquela área, ao contrário do caso de Canoas, não caracteriza uma armadilha, pois conta com vastas áreas acima da barragem” - Vá entender o que ele quis dizer realmente...


Um abração a todos e desculpem, mas este artigo é dose (em tamanho)!

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Para jckruel

Mensagem por Normando » Dom Mar 09, 2008 3:43 am

guilherme.morais escreveu:Sou do time que sempre defendeu a escada também, mesmo já tendo me questionado quanto a volta dos peixes para a parte baixa do rio... Mas sinceramente, não vejo outra solução viável economicamente para as barragens. Alternativas até tem, mas que a engenharia brasileira ainda desconhece, e que a diferença no custo fará com que as autoridades, como sempre, mandem a natureza pro inferno...
Prezado jckruel,
Na mais nova hidreletrica inaugurada em MG, a usina de Aimorés no Rio Doce, foi construído um sistema de transposição de peixes segundo eles já adaptado aos peixes brasileros. Interessante que uma dos responsáveis pela implantação do projeto foi a ONG "Alma do Rio", veja o site desta ONG
http://www.almadorio.org.br/

Inclusive lá você pode acessar um vídeo que fala da piracema e do sistema montado naquela represa. Entrando em contato com o pessoal da "Alma do Rio" eles poderão lhe prestar mais informações porque eles também participam do projeto de monitoramento e repovoamento do rio.
Abraços e parabéns pelo seu trabalho,
Normando.
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Mensagem por jckruel » Seg Mar 10, 2008 1:01 am

Caro Normando,

Vi com atenção o que a co irmã Almas do Rio está fazendo com relação à construção da UHE Amorés.

É muito interessante, mas como sempre quase nunca ficamos sabendo o nome do emprendedor que a está construindo, dado que é muito complicado ficar "dando nome aos bois".

Em todo o caso, pelo trabalho do Prof. Agostinho & Cia, todos as equipes que estão desenvolvendo estudos sobre mecanismos de transposição estão, na verdade fabricando armadilhas... Para nós vai ser uma discussão muito interessante entre os acadêmicos dos prós x contras os mecanismos.

Antes os peixes não podiam subir porque os mecanismos não funcionavam. Agora que aprendemos a construí-los viraram armadilhas...Afinal qual é a solução que os acadêmicos de Maringá propõe
com relação a conservação ambiental nas UHEs brasileiras?

Abração e obrigado pelas informações. Acaso terias conhecimento sobre a base legal para que as pessoas físicas doassem 6% do IR e as jurídicas 1% do IR para a ONG Almas do Rio? A APEGO teria muito interesse em saber. (Vou tentar descobrir).

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Re: UHE Aimorés

Mensagem por Normando » Seg Mar 10, 2008 1:09 pm

jckruel escreveu:Caro Normando,

Vi com atenção o que a co irmã Almas do Rio está fazendo com relação à construção da UHE Amorés.

É muito interessante, mas como sempre quase nunca ficamos sabendo o nome do emprendedor que a está construindo, dado que é muito complicado ficar "dando nome aos bois".

Em todo o caso, pelo trabalho do Prof. Agostinho & Cia, todos as equipes que estão desenvolvendo estudos sobre mecanismos de transposição estão, na verdade fabricando armadilhas... Para nós vai ser uma discussão muito interessante entre os acadêmicos dos prós x contras os mecanismos.

Antes os peixes não podiam subir porque os mecanismos não funcionavam. Agora que aprendemos a construí-los viraram armadilhas...Afinal qual é a solução que os acadêmicos de Maringá propõe
com relação a conservação ambiental nas UHEs brasileiras?

Abração e obrigado pelas informações. Acaso terias conhecimento sobre a base legal para que as pessoas físicas doassem 6% do IR e as jurídicas 1% do IR para a ONG Almas do Rio? A APEGO teria muito interesse em saber. (Vou tentar descobrir).

Kruel
É importante lembrar que a usina de Aimorés já está em operação, o empreendedor é a CEMIG em consórcio com a Cia Vale do Rio Doce. Me parece que a UHE Retiro de Baixo, que está sendo construída no Rio Paraopeba(entre os municípios de curvelo e Pompéu-MG) também está desenvolvendo um sistema semelhante, o empreendedor neste caso é FURNAS.
Não conheço as características juridicas da ONG Alma do Rio, mas a base legal que diz da dedutibilidade das contribuições a entidades sem fins lucrativos está prevista nos seguintes instrumentos
Lei 9249/95, Instrução normativa SRF 87/96, Decreto 3000/99. Alguém especializado na área tributária poderá lhe prestar maiores informações.
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Mensagem por Normando » Seg Mar 10, 2008 1:54 pm

complementando..
No caso da UHE aimorés o Projeto básico, executivo e estudos ambientais foi executado pela SPEC_ engenharia, veja o site:

http://www.spec.eng.br/proj_exec.html
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Guilherme Morais
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Mensagem por Guilherme Morais » Seg Mar 10, 2008 2:53 pm

Normando escreveu:complementando..
No caso da UHE aimorés o Projeto básico, executivo e estudos ambientais foi executado pela SPEC_ engenharia, veja o site:

http://www.spec.eng.br/proj_exec.html
Trabalhei em uma construtora que foi subcontratada em várias obras da barragem de Aimorés. Vou tentar descobrir algo.
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Mensagem por Normando » Seg Mar 10, 2008 8:37 pm

Com relação à UHE Retiro de Baixo, consegui as seguintes informações:
Empreendedor: Furnas Centrais Elétricas.
Construção: ORTENG - equipamentos e sistemas Ltda.
Logos Engenharia S/A
Estudos da ictiofauna e biologia reprodutiva de peixes do Rio Paraopeba na área de influência da UHE Retiro de Baixo, com vistas à construção de Sistema de Transposição de Peixes:
Centro de Estudos sobre transposição de peixes - UFMG.
Centro de Pesquisas Hidráulicas - CPH da UFMG. Um dos coordenadores do projeto é o Professor Carlos Martinez da CPH/UFMG.
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