Mais uma expedição maluca. Conhecer as trutas mineiras. O local é a Serra da Mantiqueira, o alvo é o Rio Aiuruoca na cidade de Itamonte, no vilarejo de Fragária.
Um rio que corre no alto dos seus 1400 metros de altitude, água limpa, GELADA e muita truta. Locais maravilhosos, paisagens fantásticas.
Local já conhecido de muitos pescadores de fly e eu ainda não conhecia. Eu havia marcado de ir para a Trade Show encontrar com o Nelson mas tive que ficar para trabalhar em uma reunião na sexta para um projeto muito grande. Então, cancelada a minha ida para São Paulo resolvemos ir atrás das trutas. Pescaria marcada, saímos de BH na sexta dia 05 de setembro. Viajamos a noite e chegamos na pousada a 1h30m da madrugada. Uma estrada muito difícil, muito inclinada, recomendo um 4x4. Tem lugares que cheguei a duvidar que minha camionete fosse subir... kkk
Chegamos e estava FRIO PRA KCT... Fomos direto pro quarto da pousada Fragária. Um quarto com uma cama de casal e uma beliche - um bom banheiro, uma mesa boa para atado e uma BELA LAREIRA.
Naquela noite os termômetros marcaram uma queda de 5 graus, o que prejudicou a pescaria.
Ficamos até as 3 da madrugada preparando material. Wader, iscas, linhas, varas e tudo mais.
Nenhum de nós tinha experiência com as trutas nem com o rio, então a estratégia era a de conhecer o local, o rio e os peixes que vivem ali.
Eu com uma vara #4 e uma linha Rio Avid Trout e uma #3 com uma DT.
Duas caixas de isca, uma de secas e outra com ninfas. Acordamos cedo e a grama estava branca com uma geada - quando o sol apareceu começou a subir aquela fumaçinha...
Acendi a lareira e todos começamos a nos vestir. Uma calça quente por baixo, outra por cima e o wader. Só assim pra aguentar.
Iniciamos a pescaria em frente a pousada, até o café da manhã ficar pronto e depois íamos seguir algumas trilhas e chegar a outros pontos. Até a hora do café nenhum peixe, mas vimos várias ações na superfície. Várias eclosões de MayFly, mas todas muito pequenas. Se atadas seriam em anzóis 18 a 22.
Tomamos café e fomos para o ponto da cachoeira - chegando lá ficamos impressionados com a beleza do lugar. Uma queda d'água de uns 3 a 4 metros, um lago de águas transparentes e geladas correndo por dois riachos que se juntam em um mais embaixo. Pescando com uma ninfa e arremessando na queda d'água tenho recolhendo e quando olho para o lado pra falar com o Nerciso e um puxão. A primeira truta perdida. Mais alguns arremessos e outro puxão, outra perdida. Peguei uma vara de bamboo com linha #2 e fui descer o riacho. O amigo Zhoury me disse que viu uma truta comer na superfície e me mostrou. Na mesma hora uma mayfly caiu na água e ela atacou. Coloquei uma seca e arremessei, ela nem deu atenção. Eu percebi que a cor e o tamanho não eram compatíveis com o que ela estava comendo. Troquei a isca e coloquei uma adams atada em anzol 22. Fiz um roll cast e a isca caiu suavel na corredeira e desceu - poow, a truta atacou... na ansiedade perdi a ferrada. Esperei mais um pouco, dei um tempo e voltei a tentar. Sequei a isca e fiz um novo roll cast - ela atacou novamente... desta vez com sangue mais frio e calma consegui sentir o peso dela na linha, mas também se soltou no primeiro salto.
Continuei tentando mas depois que ela sentiu o anzol não voltou mais. Seguimos descendo o rio até a porta da pousada novamente. Já era hora do almoço. Paramos pra almoçar e o dono da pousada nos falou de um ponto acima do rio, onde praticamente ninguém pesca e tinha trutas grandes. Mas tínhamos que ir de carro. Seguimos o conselho e fomos. Paramos no primeiro ponto que vimos e descemos pro rio. O Narciso arremessa uma seca e perde outro ataque. Ficamos tentando e a truta não voltou. Eu ví ela nadando e não era pequena. O Narciso foi subindo o rio e chegou em um poço fundo. Um vento bateu nas árvores e algo caiu na água - veio a porrada, parecia um tucunaré batendo. Uma truta muito grande atacou na superfície. Depois tentamos de todos os jeitos ativar um novo ataque e nada. Uma truta subiu em uma isca minha mas refugou. Chamamos o ponto de Trutazila.
Passamos o dia pescando ali na região e depois voltamos. Fomos a outro ponto indicado pelo pessoal da pousada. Chegando lá, quase noite, vimos um poço grande e muitos ataques na superfície. O Narciso perde outro ataque em uma corredeira. Nesta hora eu não desci com minha vara, fui apenas acompanhando os dois. Derrepente inicia uma eclosão de mayfly, de todos os tamanhos - tinham desde pequenas até maiores. Comparadas ao tamanho dos anzóis - de 18 até 10. Muita truta atacando na superfície. Narciso e Zhoury errando muitos arremessos pela pressão de ver tantos peixes atacando na superfície. Moral da história, nenhum peixe fisgado. Chegou a noite e com ela o fim do dia.
O que aprendemos? Com truta não tem tentativa - ou acerta ou não pega o peixe. Ou tem sangue frio ou esquece. Recolhemos muitas mayflys para ver o padrão e as cores para atar e usar no dia seguinte.
Chegamos, tomamos um banho e o jantar estava pronto. Depois de jantar fomos atar algumas iscas e deixar tudo preparado pro dia seguinte.
Fogo na lareira e direto pra cama. As costas estavam doendo, pernas doendo, corpo moído mas realizado.
A programação pro dia seguinte era conhecer novos pontos. O poço do Frances, local de trutas grandes e belas histórias. Na primeira vista que tivemos três ataques de peixes de bom tamanho comendo na superfície. Mais uma vez a falta de calma atrapalhou. Ao ver a primeira truta atacando o Zhoury e o Narciso já arremessaram suas linhas atravessando o lago inteiro e literalmente matando o ponto todo. As trutas são ariscas e sumiram. Um ou outro ataque e sumiram. Desci uma cachoeira e fui pra um ponto lindo - estava lá sozinho - deitei em uma pedra, com as pernas dentro d'água e fiquei lá ouvindo a água descendo e e o som da natureza. Esperando ouvir um ataque na superfície. Nada... nenhum ataque.
Fiquei lá curtindo o visual. Resolvi voltar pro lago. Ninguém tinha fisgado nada. Achei uma sombra em um gramado. Deitei e tirei um cochilo de umas 2 horas.
Acordei e escuto o relato de que o Narciso havia subido o rio e em um poço conseguiu fisgar uma truta, mas que escapou quando chegou a uns 40cm dele. Era hora de voltar, o almoço estava na hora. Voltamos pra pousada, almoço na mesa. Estava chegando no fim a pescaria. A programação era pescar na frente da pousada, voltar na ponto da eclosão de sábado e fim. Juntar as coisas e voltar pra BH.
E assim fizemos - não foi desta vez que fisgamos as trutas mineiras, mas elas existem e estão lá. A gente volta e pesca elas da próxima vez.
Algumas fotos da viagem.
TRUTA EM MINAS GERAIS? Sim...
- Alexandre Estanislau (Zeca)
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Antes, muito grata por dividir conosco esta linda aventura que não tem nada de "maluca", Zeca.
Desafiar a pesca de um peixe ultra-exigente e/ou local inédito para nós; é sempre um banho de adrenalina! A ausência de capturas não tira sabor dos "contatos" com a espécie, e percepção de "vida no rio" ( nada mais belo que a percepção de um rio com peixes: um "rio vivo"). Além de inflamar o espírito com sonhos de retornos de maior sucesso; também não tira o deleite de passar momentos em ambiente tão preservado e cheio de vida. Isso não tem preço.
Nascida e crescida em cidade com temp atinge 44º no verão, não sei como resistirei qdo seguir as pintadas em ambientes gelados. Mas o fascínio que reascende a cada relato do tipo, incentiva acelerar buscas de diversas preparações necessárias ( no meu caso) para que este dia chegue quanto antes.
Aguardando "O Retorno ao Aiuruoca" !
Seca?Reflorestar !
- Luiz Almeida
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Bem vindo ao universo da pesca de trutas com mosca, Zeca!
O seu relato bem descreve por que essa é uma pesca apaixonante, cheia de detalhes e desafios, que cobra muita aplicação, mesmo de pescadores experientes como você.
E muito bom saber que o Aiuruoca continua vivo, com as trutinhas bem ativas. Esse é um rio que amo, onde já fui mais de 20 vezes e onde pretendo continuar pescando por muitos anos.
Abraços
Luiz
O seu relato bem descreve por que essa é uma pesca apaixonante, cheia de detalhes e desafios, que cobra muita aplicação, mesmo de pescadores experientes como você.
E muito bom saber que o Aiuruoca continua vivo, com as trutinhas bem ativas. Esse é um rio que amo, onde já fui mais de 20 vezes e onde pretendo continuar pescando por muitos anos.
Abraços
Luiz